10 outubro 2008


Cidade da Mãe de Nazaré

“Belém, Belém” o som da palavra lembra o badalar dos sinos, remete diretamente ao nome do

berço de Jesus. Certamente não nos parecemos com a Belém de Nazaré, somos outra, a histórica Belém do Grão-Pará, cidade das mangueiras, apogeu da economia da borracha. Todavia, não é à toa que este lugar, situado no coração da Amazônia, tenha se tornado a casa da Virgem de Nazaré.


O círio de Nossa Senhora, a maior procissão do mundo, não é só uma peregrinação religiosa pelas ruas da capital, é uma evocação à fé banalizada, ou esquecida por tantos. Numa época em que crer em Deus é uma atitude de poucos, ver uma cidade inteira se vestir de cores e cantos para uma tradição religiosa é reacender as expectativas de um mundo mais humano. Nas peças de cera, nas casinhas de isopor, nas pessoas presas à corda, vemos a humildade de um povo que se nutre de esperança e que necessita de pouco para ser feliz.


Apesar dos problemas vividos por uma metrópole - saúde precária, famílias amontoadas em palafitas, violência nas escolas - todos os olhares do país voltam-se para esta cidade. O percurso da berlinda ganha holofotes, exige-se a segurança de policiais, a organização de voluntários, o cuidado dos médicos, dos bombeiros, enquanto uma multidão reza, clama, chora, sofre e acredita, sim, acredita! O círio resgata o jeito simples de crer num amanhã melhor. Os devotos clamam por bênçãos e as histórias tão diferentes de cada um se confundem, no mesmo anseio, no mesmo canto:


“porque eu tenho esperança e muita fé / porque eu quero ter amor bem mais ainda / porque te amo, Senhora de Nazaré / quero puxar a corda de tua berlinda”


O segundo domingo do mês de outubro dos paraenses é um novo natal, as imagens da Senhora de Nazaré simbolizam aquela que disse sim, mesmo sendo pobre, aceitou a mais nobre das missões. O povo do Pará se identifica com a humildade da mãe, da serva do Senhor:

“Maria de Nazaré, Maria me cativou, fez mais forte a minha fé e por filho me adotou”.

Esse é o tempo de promessas de vida saudável, de melhores condições de moradia, de mostrarmos às montanhas de dificuldades que nossa fé pode movê-las. Milagres não são tolices, uma pessoa simples necessita de esperança, de prodígios e de sonhos. Precisamos urgentemente alimentar nossa alma de devoção, muitas vezes a racionalidade torna-se pretexto para a descrença.


Belém é a cidade que abriga a fé e a tradição. O círio de Nazaré revela a alma do povo paraense, (por vezes, esquecido) o nortista feliz, simples, acolhedor e afetuoso. As procissões movimentam o comércio, o turismo, mas, sobretudo, acionam o nosso coração. Vamos unir as famílias, não para uma festa de bebedeiras, mas para recuperar a união perdida. Vamos às ruas acompanhar as procissões, não para adorar uma imagem, mas para recuperar através da figura da Mãe a ligação com Deus.


Milagres acontecem todos os dias, aqueles que batalham para sobreviver sabem disso, a Virgem, nossa intercessora, nos dá apenas uma Santa forcinha.


Geovane Belo, Castanhal - PA, 11 de outubro de 2008.

Um comentário:

Benny Franklin disse...

Caro, Geovane!

Bom texto sobre a Nazaré.

PS: seu blog é excelente.

Abçs.

Benny Franklin

Quem sou eu

Sou o que ninguém sabe e o que todo mundo conhece ou cobiça saber. Não me compreendem porque não me entendem. Não me entendem porque não me compreendem. É fácil. Se há certeza, é a duvida de tudo. Se há dúvida, é a certeza apavorante de não saber nada disso, nem daquilo, nem de coisa alguma. Não sou paradoxo, nada de versos sobre minha exatidão, sou imprecisão exata, abstração concreta, sou eu, só eu tão mim-mesmo. Se me queriam outro, por que procuram-me? Procurem outro, ou escavem esse outro em mim, tenho milhares de mins num eu. Ora, sou matéria palpável e dita de um absurdo impalpável e indizível. Só me entende quem não me quer entender. Não sou resposta, já disse, nem tenho respostas, sou a pergunta aberta e fria que nunca cansa de ser dúvida, que não cessa da convicção de não saber quem sou.
"A vida inteira estive em tudo como um deus, eu era todas as coisas de uma só vez, era a prece e a sentença, a entrega e a perdição, as juras e todo o pecado. A vida inteira cabia em mim porque eu era a vida inteira dentro de mim, até perceber que eu faltava a mim... perdi tudo sem nunca ter tido coisa nenhuma".