
Cidade da Mãe de Nazaré
“Belém, Belém” o som da palavra lembra o badalar dos sinos, remete diretamente ao nome do
berço de Jesus. Certamente não nos parecemos com a Belém de Nazaré, somos outra, a histórica Belém do Grão-Pará, cidade das mangueiras, apogeu da economia da borracha. Todavia, não é à toa que este lugar, situado no coração da Amazônia, tenha se tornado a casa da Virgem de Nazaré.
O círio de Nossa Senhora, a maior procissão do mundo, não é só uma peregrinação religiosa pelas ruas da capital, é uma evocação à fé banalizada, ou esquecida por tantos. Numa época em que crer em Deus é uma atitude de poucos, ver uma cidade inteira se vestir de cores e cantos para uma tradição religiosa é reacender as expectativas de um mundo mais humano. Nas peças de cera, nas casinhas de isopor, nas pessoas presas à corda, vemos a humildade de um povo que se nutre de esperança e que necessita de pouco para ser feliz.
Apesar dos problemas vividos por uma metrópole - saúde precária, famílias amontoadas em palafitas, violência nas escolas - todos os olhares do país voltam-se para esta cidade. O percurso da berlinda ganha holofotes, exige-se a segurança de policiais, a organização de voluntários, o cuidado dos médicos, dos bombeiros, enquanto uma multidão reza, clama, chora, sofre e acredita, sim, acredita! O círio resgata o jeito simples de crer num amanhã melhor. Os devotos clamam por bênçãos e as histórias tão diferentes de cada um se confundem, no mesmo anseio, no mesmo canto:
“porque eu tenho esperança e muita fé / porque eu quero ter amor bem mais ainda / porque te amo, Senhora de Nazaré / quero puxar a corda de tua berlinda”
O segundo domingo do mês de outubro dos paraenses é um novo natal, as imagens da Senhora de Nazaré simbolizam aquela que disse sim, mesmo sendo pobre, aceitou a mais nobre das missões. O povo do Pará se identifica com a humildade da mãe, da serva do Senhor:
“Maria de Nazaré, Maria me cativou, fez mais forte a minha fé e por filho me adotou”.
Esse é o tempo de promessas de vida saudável, de melhores condições de moradia, de mostrarmos às montanhas de dificuldades que nossa fé pode movê-las. Milagres não são tolices, uma pessoa simples necessita de esperança, de prodígios e de sonhos. Precisamos urgentemente alimentar nossa alma de devoção, muitas vezes a racionalidade torna-se pretexto para a descrença.
Belém é a cidade que abriga a fé e a tradição. O círio de Nazaré revela a alma do povo paraense, (por vezes, esquecido) o nortista feliz, simples, acolhedor e afetuoso. As procissões movimentam o comércio, o turismo, mas, sobretudo, acionam o nosso coração. Vamos unir as famílias, não para uma festa de bebedeiras, mas para recuperar a união perdida. Vamos às ruas acompanhar as procissões, não para adorar uma imagem, mas para recuperar através da figura da Mãe a ligação com Deus.
Milagres acontecem todos os dias, aqueles que batalham para sobreviver sabem disso, a Virgem, nossa intercessora, nos dá apenas uma Santa forcinha.
Geovane Belo, Castanhal - PA, 11 de outubro de 2008.
Um comentário:
Caro, Geovane!
Bom texto sobre a Nazaré.
PS: seu blog é excelente.
Abçs.
Benny Franklin
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