16 março 2007


Borboletinha nos olhos de Lorena

Minha alma, uma borboletinha perdida,
À procura de uma flor
invadiu o quarto de Lorena
e ficou presa se debatendo nas paredes
do coração da menina.
Voou pra lá, voou pra cá
E não consegui encontrar
a janela para fugir.
Depois, pousou num dos olhos dela
E, pobrezinha da borboletinha,
toda derretida, apaixonou-se
pela lua cristalina que viu lá dentro.
Ficou ali parada ao redor das pálpebras
Beijando a lua que a fitava
Como se beijasse a mais bela flor,
Como se beijasse a primavera toda.
Minha alma, borboletinha que andava perdida,
Sabe que a vida é curta
Mas, como sabe amar,
Decidiu viver infinitamente os seus dias
Voando, amando essa vista de lua,
beber o néctar das lágrimas da menina
se banhar no orvalho dessa flor-morena
e fazer que o céu respingue amor
sobre a vida de Lorena.

Quem sou eu

Sou o que ninguém sabe e o que todo mundo conhece ou cobiça saber. Não me compreendem porque não me entendem. Não me entendem porque não me compreendem. É fácil. Se há certeza, é a duvida de tudo. Se há dúvida, é a certeza apavorante de não saber nada disso, nem daquilo, nem de coisa alguma. Não sou paradoxo, nada de versos sobre minha exatidão, sou imprecisão exata, abstração concreta, sou eu, só eu tão mim-mesmo. Se me queriam outro, por que procuram-me? Procurem outro, ou escavem esse outro em mim, tenho milhares de mins num eu. Ora, sou matéria palpável e dita de um absurdo impalpável e indizível. Só me entende quem não me quer entender. Não sou resposta, já disse, nem tenho respostas, sou a pergunta aberta e fria que nunca cansa de ser dúvida, que não cessa da convicção de não saber quem sou.
"A vida inteira estive em tudo como um deus, eu era todas as coisas de uma só vez, era a prece e a sentença, a entrega e a perdição, as juras e todo o pecado. A vida inteira cabia em mim porque eu era a vida inteira dentro de mim, até perceber que eu faltava a mim... perdi tudo sem nunca ter tido coisa nenhuma".