15 março 2008

verbamar
*
amar no infinitivo
não se conjuga
não tem tempo
nem modo

no presente
a primeira pessoa
se confunde com
a segunda
e, às vezes,
uma terceira
pode atrapalhar
o futuro.

amar não é indicativo
é irregular como o ser
admite a ativa ação
dos sujeitos
mas não funciona
com os agentes
na passiva

amar pode ser defectivo
no singular, faltar uma pessoa
pode até descolorir
risos e tônicas conjugações.
amar não tem conjectura
funciona apenas quando
os dois formam uma locução
no plural

o pior é amar no subjuntivo
dúvidas, imprecisão...
amar no imperativo
regras, súplicas...

amar é verbo de emprego complexo
mas, se as formas forem antônimas
e concordarem entre si,
o predicado da vida
pode ter algum nexo.
*
obs.: verbamar é transitivo direto

Quem sou eu

Sou o que ninguém sabe e o que todo mundo conhece ou cobiça saber. Não me compreendem porque não me entendem. Não me entendem porque não me compreendem. É fácil. Se há certeza, é a duvida de tudo. Se há dúvida, é a certeza apavorante de não saber nada disso, nem daquilo, nem de coisa alguma. Não sou paradoxo, nada de versos sobre minha exatidão, sou imprecisão exata, abstração concreta, sou eu, só eu tão mim-mesmo. Se me queriam outro, por que procuram-me? Procurem outro, ou escavem esse outro em mim, tenho milhares de mins num eu. Ora, sou matéria palpável e dita de um absurdo impalpável e indizível. Só me entende quem não me quer entender. Não sou resposta, já disse, nem tenho respostas, sou a pergunta aberta e fria que nunca cansa de ser dúvida, que não cessa da convicção de não saber quem sou.
"A vida inteira estive em tudo como um deus, eu era todas as coisas de uma só vez, era a prece e a sentença, a entrega e a perdição, as juras e todo o pecado. A vida inteira cabia em mim porque eu era a vida inteira dentro de mim, até perceber que eu faltava a mim... perdi tudo sem nunca ter tido coisa nenhuma".