05 abril 2008

riso

teu riso largo
deságua delírios
de lírios em mim.

teu riso lago
me leva, me vela
e me inunda de ti.

teus dentes açucarados
me lambuzam.
eu fico meio levado
rindo do teu riso
meio velado
meio de lado.

a tua boca me engravida.
minha vida é sorvida

teu riso sem siso
na gravidade
dessa idade
é ida e volta
me adultera e me devota.

teu riso alaga, alarga minha dor
teu riso largo é lago submerso
teu riso me esquarteja,
esmaga e corrói meus olhos.

teu riso me naufragou...

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Quem sou eu

Sou o que ninguém sabe e o que todo mundo conhece ou cobiça saber. Não me compreendem porque não me entendem. Não me entendem porque não me compreendem. É fácil. Se há certeza, é a duvida de tudo. Se há dúvida, é a certeza apavorante de não saber nada disso, nem daquilo, nem de coisa alguma. Não sou paradoxo, nada de versos sobre minha exatidão, sou imprecisão exata, abstração concreta, sou eu, só eu tão mim-mesmo. Se me queriam outro, por que procuram-me? Procurem outro, ou escavem esse outro em mim, tenho milhares de mins num eu. Ora, sou matéria palpável e dita de um absurdo impalpável e indizível. Só me entende quem não me quer entender. Não sou resposta, já disse, nem tenho respostas, sou a pergunta aberta e fria que nunca cansa de ser dúvida, que não cessa da convicção de não saber quem sou.
"A vida inteira estive em tudo como um deus, eu era todas as coisas de uma só vez, era a prece e a sentença, a entrega e a perdição, as juras e todo o pecado. A vida inteira cabia em mim porque eu era a vida inteira dentro de mim, até perceber que eu faltava a mim... perdi tudo sem nunca ter tido coisa nenhuma".