05 novembro 2007

Sonopoema


Escrevo enquanto durmo
isso me fere o sono.

Escrevo, escrevo
tanto sonho escrito no sono
assonâncias, ânsias,
assonhâncias.

Ronco, babo, deliro
me enrosco na colcha
e no travesseiro do verso.

Depois acordado tudo se foi
nem um verso a mais perambula
insone pelo quarto,
nada, nada, nadinha.

Pensamento perdido
ou encontrado?
O poeta verdadeiro dorme
ou desperta?

Os mais lindos poemas
ficarão para sempre
dormindo dentro de nós
sonolentos
O homem acordado sonha lento
e o poeta que dorme nele
talvez nunca mais acorde
do seu sono lento.



Geovane Belo, 06 de novembro

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Quem sou eu

Sou o que ninguém sabe e o que todo mundo conhece ou cobiça saber. Não me compreendem porque não me entendem. Não me entendem porque não me compreendem. É fácil. Se há certeza, é a duvida de tudo. Se há dúvida, é a certeza apavorante de não saber nada disso, nem daquilo, nem de coisa alguma. Não sou paradoxo, nada de versos sobre minha exatidão, sou imprecisão exata, abstração concreta, sou eu, só eu tão mim-mesmo. Se me queriam outro, por que procuram-me? Procurem outro, ou escavem esse outro em mim, tenho milhares de mins num eu. Ora, sou matéria palpável e dita de um absurdo impalpável e indizível. Só me entende quem não me quer entender. Não sou resposta, já disse, nem tenho respostas, sou a pergunta aberta e fria que nunca cansa de ser dúvida, que não cessa da convicção de não saber quem sou.
"A vida inteira estive em tudo como um deus, eu era todas as coisas de uma só vez, era a prece e a sentença, a entrega e a perdição, as juras e todo o pecado. A vida inteira cabia em mim porque eu era a vida inteira dentro de mim, até perceber que eu faltava a mim... perdi tudo sem nunca ter tido coisa nenhuma".